Descenso, lágrimas e sofrimento

Desespero, agonia e decepção. E tudo em dobro. Foi assim a partida que terminou como a mais triste da história quase centenária do Corinthians. O suplício do último compromisso corintiano na elite somou-se ao que acontecia bem longe, a mais de dois mil quilômetros de distância de Porto Alegre. Não foram apenas as emoções dos dois gols do empate no Olímpico que moveram a tarde de futebol na capital gaúcha.

O Corinthians também sentiu as conseqüências dos dois gols que marcaram a virada do Goiás para cima do Inter, em Goiânia. O gol de Jonas e o empate de Clodoaldo intercalaram-se com o 1 a 0 para os gaúchos no Serra Dourada e a igualdade obtida por lá. Tudo no primeiro tempo dos dois jogos, que, apesar das artimanhas dos envolvidos na luta pelo rebaixamento, acabaram sofrendo quase ao mesmo tempo.

O Corinthians só entrou em campo 18 minutos após começar outros jogos da rodada derradeira. Ganhou, porém, só dois minutos de vantagem para saber o que acontecia no Serra Dourada e reagir a isso.

Gremistas vibraram muito com pênalti em Goiânia

Na primeira etapa, a estratégia funcionou a contento. O gremista Jonas fez 1 a 0 no primeiro ataque do jogo. O alívio corintiano, porém, não se estendeu por longos 30 minutos, tempo que demorou para Clodoaldo acertar o pé e, num cruzamento pela direita do improvisado ala Carlos Alberto, empurrar a bola para as redes.

– Não adianta ficar aqui empatando e dependendo dos outros – disse o goleiro Felipe ao término da etapa inicial.

O camisa 1 corintiano não sabia, mas profetizou o que viria a ocorrer. Novamente o Corinthians ganhou vantagem preciosa no relógio. Manteve os dois minutos de atraso em relação ao duelo em Goiânia. E, como no primeiro tempo, a alegria e a decepção se intercalaram. Só que com mais intensidade. Tudo começou quando a torcida do Grêmio celebrou seu "terceiro" gol. Os gaúchos vibraram alucinadamente quando o Goiás teve um pênalti a seu favor, contra o Inter.

Para o Corinthians, os 38 minutos que o separaram daquele momento até a confirmação da queda foram desespero puro. Desespero para Nelsinho, que pôs em campo toda a força ofensiva que tinha no banco, tornando o esquema cauteloso do início do jogo, com quatro volantes, em tentativa de pressionar, com dois meias (Héverton e Aílton) e três atacantes (Lulinha, Clodoaldo e Arce). Desespero também viveu Felipe em duas tentativas de fazer de cabeça, quando a vitória do Goiás já era sem volta – em ambas, o goleiro nem tocou na bola. Desespero que, ao apito final, transformou em realidade o pesadelo da Série B.

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Ficha técnica
 
Grêmio (1) 4-4-2
Marcelo Grohe;
Patrício
Leo
William
Bustos
(Anderson Pico);
William Magrão
Diego Souza
Tcheco
Ramon
(Sandro Goiano);
Jonas
Marcel
Técnico: Mano Menezes
Corinthians(1) 3-6-1
Felipe;
Betão
Zelão
Fábio Ferreira;
Bruno Octávio
(Arce)
Vampeta
(Héverton)
Carlos Alberto
Moradei
Lulinha
Éverton Ribeiro
(Ailton);
Clodoaldo
Técnico: Nelsinho Baptista
Gols: Jonas (G), a um minuto, e Clodoaldo (C), aos 30 do 1º T. Amarelos: Tcheco, Magrão e Jonas (G); Betão, Zelão, B. Octávio e Clodoaldo (C). Expulsão: Héverton (C). Arbitragem: Alício Júnior, com Aristeu Tavares e Alessandro Rocha. Local: Olímpico, em Porto Alegre
Todos os ângulos do sofrimento corinthiano
 
Atual presidente detona Dualib
O presidente corintiano Andrés Sanchez prometeu renovação no futebol alvinegro. E disparou contra a antiga gestão, de Alberto Dualib, que responde na Justiça por ilícitos administrativos.
– O time caiu porque estamos tendo erros há 15 anos. A partir de amanhã (hoje) todo mundo terá ciência das coisas escusas no clube. Temos que reconstruir o Corinthians, que será outro no ano que vem – afirmou Andrés Sanchez.
O dirigente assumiu o comando do clube no dia 10 de outubro, um dia após vencer as eleições presidenciais, e garante que o pouco tempo de trabalho foi fundamental para o momento ruim do time.
– A única área que não tínhamos mexido muito era o futebol, mas iremos modificar muita coisa no ano que vem – garantiu o presidente corintiano, que não confirmou se já contratou o ex-jogador Antônio Carlos para o cargo de gerente de futebol, como especulado pela imprensa paulista.
– Serão várias atitudes para promover as mudanças, mas não vou adiantar quais serão as modificações. Não é o momento de falar sobre isso – desconversou.
Questionado sobre a revolta da torcida com o rebaixamento, pediu calma:
– Eu sei que é difícil falar isso agora, mas a torcida tem que ter paciência
Torcida poupa os jogadores
A queda se confirmou, mas a torcida do Corinthians no Olímpico estendeu sua trégua ao time. Os corintianos deixaram para protestar depois. Em vez de fazer cobranças e pressionar o elenco que levou o clube à Série B, os torcedores preferiram entoar o hino corintiano e outros gritos de apoio, predominantes na reta final do Brasileiro.
Quando cansaram, ainda à espera da liberação da polícia para deixar o estádio e voltar aos ônibus, o silêncio tomou conta do setor onde estavam. A hostilidade ficou a cargo da torcida local.
Para evitar confrontos, a Brigada Militar represou o comboio de ônibus corintiano na entrada de Porto Alegre. Porém, mesmo com a cautela da polícia local, conflitos não foram evitados. Dois táxis com torcedores corintianos acabaram sendo apedrejados.
Em São Paulo, o torcedor, o 12º e mais importante jogador da história corintiana, parecia reavaliar seu papel. O ano de 2007 será lembrado como aquele em que um time do Parque São Jorge derrotou a Fiel. Na quadra da Gaviões, epicentro da paixão corintiana, era mais especial. Um torcedor se deitou no chão. Outros choravam, escorados em paredes, agachados na porta. Casais se abraçavam. "Eu nunca vou te abandonar, Corinthians", gritavam alguns
Jovem Felipe segura a bronca
As lágrimas cobriram o rosto dos jogadores e torcedores. E como um reflexo do que se viu em campo, o único dos rebaixados que enfrentou as entrevistas depois do jogo foi justamente o grande destaque na temporada, o goleiro Felipe.
Apesar de jovem, ele mostrou maturidade para enfrentar de frente a queda corintiana. Após o final do jogo contra o Grêmio, muitos jogadores deixaram o gramado chorando, e muitos deles nem mesmo conseguiram falar. Cabisbaixo, o goleiro corintiano resumiu o espírito do grupo alvinegro.
– É difícil de falar nesse momento. Estou muito chateado porque nós tentamos e corremos, mas não deu. O que começa errado, termina errado – analisou o jogador, na saída do gramado.
– Eu já cai com o Vitória e sei que é muito doído. Para os nossos torcedores será uma situação nova, dura, triste. Estou sentindo uma dor que não dá para explicar. Não dá.
Ele já foi chamado de ídolo, herói e salvador. Apelidado de "São" Felipe, sozinho não conseguiu evitar o rebaixamento, o que deixa no ar sua permanência ou não no Parque São Jorge.
– Tenho contrato até 2011, mas vamos ver. Vamos conversar
Frase
ANTOINE GEBRAN, VICE-PRESIDENTE DO TIMÃO
"Eu nunca vi um pênalti voltar três vezes (na verdade foram duas) até sair o gol. Foi uma sacanagem, estou desconfiado da arbitragem. Fizemos um trabalho bom e honesto"

Fonte: Diário Catarinense