Lula: alegação de que cana estaria invadindo Amazônia é "sem pé nem cabeça"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu com ironia as críticas de que, no Brasil, as plantações de cana-de-açúcar para a produção de etanol estariam invadindo a Amazônia. Segundo Lula, esse é um argumento "sem pé nem cabeça".

— Quem fala uma bobagem dessas não conhece o Brasil — disse na abertura da Conferência da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Lula apresentou números para rebater críticas. Segundo ele, a Região Norte tem apenas 0,3% da área total dos canaviais do Brasil.

— Ou seja, 99,7% da cana está a pelo menos 2 mil quilômetros da Floresta Amazônica. Isto é, a distância entre nossos canaviais e a Amazônia é a mesma que existe entre o Vaticano e o Kremlin — disse.

Ele lembrou que no Brasil existem 77 milhões de hectares de terras agrícolas "fora da Amazônia, bem entendido" que ainda não foram utilizados.

— Isso equivale a pouco menos que os territórios da França e da Alemanha, juntos. E ainda temos 40 milhões de hectares de pastagens subutilizadas e degradadas, que podem ser recuperadas e destinadas à produção de alimentos e cana.

Segundo o presidente, dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos atestam que o Brasil tem 340 milhões de hectares de terras agrícolas, desses 7 milhões são de cana. Metade disso (3,6 milhões) é destinada à produção de etanol.

— A produção brasileira de etanol à base de cana-de-açúcar ocupa uma parte muito pequena de terras agricultáveis e não reduz a área de produção de alimentos. Ou seja, toda a cana do Brasil está em 2% da sua área agrícola, e todo o seu etanol é produzido em apenas 1% dessa mesma área.

Para devolver as críticas, Lula disse não ser favorável à produção de etanol a partir de alimentos:

— Não acredito que alguém vá querer encher o tanque do seu carro com combustível se para isso tiver de ficar de estômago vazio.

Defesa do etanol

O presidente defendeu o etanol brasileiro, feito da cana-de-açúcar, comparado ao etanol americano, feito de milho. Segundo ele, o etanol da cana gera 8,3 vezes mais energia renovável do que a energia fóssil empregada na sua produção. Já o etanol do milho gera apenas uma vez e meia a energia que consome.

— É por isso que há quem diga que o etanol é como o colesterol. Há o bom etanol e o mau etanol. O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios — disse.

Ele chamou o uso do combustível de "revolução dourada".

— O etanol brasileiro é competitivo porque temos tecnologia, temos terras férteis, temos sol em abundância, temos água, e temos agricultores competentes. E isso não é privilégio nosso. Boa parte dos países da África, da América Latina e do Caribe, além de alguns países asiáticos, reúne condições semelhantes. E, com cooperação, transferência de tecnologia e mercados abertos, pode também produzir etanol de cana ou biodiesel com sucesso, gerando emprego, renda e progresso para suas populações.

AGÊNCIA BRASIL