Nasce TV digital, falta o conversor

Rua Santa Ifigênia, Centro antigo de São Paulo. Por volta das 9h da manhã, ainda são poucos os ambulantes que ocupam as calçadas com suas ofertas de controles remotos, cartuchos de tinta, celulares, jogos, filmes, softwares e MP3 piratas.

Também é fraco o movimento nos pequenos pontos-de-venda que formam labirintos dentro de galerias espremidas, espalhadas pela região conhecida como epicentro da venda de eletroeletrônicos no país. Mas em uma loja especializada em antenas, o telefone não pára de tocar.

– Quer ver? É alguém procurando conversor – adianta o vendedor.

Na semana que antecedeu o início das transmissões da TV digital, lançada ontem após pronunciamento em rede nacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e restrita inicialmente à Grande São Paulo, foi forte a procura pelos aparelhos que permitem receber o sinal digitalizado na Santa Ifigênia. Com cerca de 2 mil lojas especializadas em produtos eletroeletrônicos, arrebanha diariamente mais de 40 mil consumidores, segundo estimativa da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) local.

Encontra-se iPhones desbloqueados, videogames, DVD players portáteis e tudo o que se pode imaginar. É só caminhar, se aventurar pelas sete quadras da rua e mais suas travessas, se embrenhar nas galerias e nem sempre acreditar quando os vendedores garantem:

– Este produto você ainda não vai encontrar aqui.

Normalização deve acontecer no Natal

Na quinta-feira, três dias antes da estréia da TV digital, a Agência RBS ouviu isso sobre os conversores. Vendedores diziam que o aparelho só chegaria para o Natal. É verdade que os atrasos de entrega pelos fabricantes fizeram com que o conversor virasse artigo raro na região famosa por ser a primeira a oferecer novidades tecnológicas. Mas ele pode ser encontrado graças à insistência de lojistas como Suheil Haddad.

– Assim vocês judiam de mim, quero o produto agora – reclamava, ao telefone, em conversas com dois fabricantes que prometeram novos lotes para daqui a duas semanas.

Já seu Surrel, um comerciante que vendia roupas, é um imigrante sírio de 60 anos que tem loja desde os 22. Ele acompanhou a transformação da região. E tem na ponta da língua a explicação para a mudança de negócio:

– É o progresso.

Entenda as mudanças
A IMAGEM DIGITAL
O sinal digital proporciona imagens com cores mais vivas e maior definição. Definição é o nível de detalhamento que a imagem pode possuir, medido em número de linhas horizontais (480, 720 e 1080 linhas). A definição padrão da TV analógica é de 480 linhas. Na digital, a definição máxima chega a 1.080 linhas (chamada Full HD). O formato da imagem na TV digital é widescreen (16:9), como o das telas de cinema, e não quadrado (4:3), como no sistema analógico.
Eu poderei receber o sinal digital na minha televisão convencional de tubo?
Sim. Para isso será necessária a aquisição de um conversor (também conhecido como set-top box) e de antena UHF, que serão conectados à TV de tubo. Neste caso, imagem e som serão equivalentes aos de um DVD. A aquisição desses aparelhos são aconselháveis para quem já não recebe uma boa imagem analógica – com "fantasmas" , por exemplo – e quer melhorar a qualidade da recepção. A imagem, no entanto, não será de alta definição, pois o conversor transforma o sinal digital em analógico, com perda de qualidade. Mas o espectador deve estar ciente de que, em aproximadamente um ano, o conversor disponível hoje no mercado deve estar obsoleto.
O SOM DIGITAL
A TV digital terá som "Som Surround 5.1" , mais rico e transmitido em múltiplos canais. Esse tipo de som também é conhecido como "som de home theater". Na TV analógica, o som só pode ser transmitido em dois canais: mono ou estéreo.
Se eu não adquirir um conversor, o que acontece com a minha televisão de tubo com a estréia da TV digital?
Nada. As transmissões do sinal analógico continuam até 2016. Só a partir dessa data é que todos os aparelhos terão de ser digitais.
Minha TV de plasma ou LCD já está pronta para receber o sinal digital?
Provavelmente não, pois os aparelhos com conversores embutidos só começaram a chegar ao mercado no final de novembro de 2007. Quem tiver um aparelho de plasma ou LCD também terá de adquirir um conversor.
INTERATIVIDADE E PORTABIILIDADE
A TV digital permite que as emissoras forneçam serviços interativos, semelhantes a alguns da Internet. O usuário poderá participar de enquetes, adquirir produtos, comentar notícias ou acessar guias de programação, quando houver compatibilidade com algum sistema de telecomunicação, como a banda larga, celular ou mesmo pelo telefone fixo. Mas o Ginga, software que permite a interatividade, ainda não está disponível.
Quem receber o sinal digital já está recebendo programação em alta definição?
Só recepção do sinal digital não basta. A alta definição só estará disponível para quem tiver um aparelho Full HD (1.080 linhas) ou HDTV Ready (720 linhas). Quem tiver um aparelho convencional conectado a um conversor, receberá o sinal digital padrão, com imagem equivalente à de DVD.
Tenho um pacote digital de TV por assinatura. O que muda?
Por enquanto, nada muda. Esses canais já são digitais, mas não têm alta definição. As operadoras de TV por assinatura têm um cronograma próprio para lançar decodificadores que melhorem a definição da imagem.
MULTIPROGRAMAÇÃO
É o recurso que possibilita às emissoras transmitirem até seis programas simultaneamente. A definição das imagens vai variar conforme o número de programas exibidos. As emissoras, no entanto, não estão investindo no recurso, já que poderia haver dispersão de audiência entre os programas.
Recebo o sinal de TV via parabólica. O que muda?
Nada. A digitalização é da televisão com sistema de transmissão terrestre.
Posso assistir à TV digital pelo aparelho celular?
O sistema digital permite que o sinal seja transmitido a aparelhos móveis de forma gratuita, mas os celulares brasileiros ainda não estão adaptados.
Poderei assistir à TV digital no computador?
Sim. Há receptores para microcomputadores, mas, por enquanto, eles são compatíveis apenas para telas de até 14 polegadas.
A programação poderá ser gravada?
A TV digital estréia sem um bloqueador de gravação. As emissoras de TV e as distribuidoras de conteúdo internacional, no entanto, pressionam o governo para que haja algum dispositivo de bloqueio.

Fonte: Diário Catarinense
Matéria: VANESSA NUNES / SP