Adeus, cidades do interior
A falta de oportunidades de trabalho está esvaziando o Oeste de SC. Dos 105 municípios que perderam população de 1996 para cá, de acordo com o censo preliminar divulgado recentemente pelo IBGE, 17 (16%) ficam na região Meio-Oeste e 47 (45%), no Oeste.
Das demais regiões catarinenses, a que tem mais municípios nessa situação é o Sul (12). O professor José Messias Bastos, do departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que essas diferenças têm raiz na ocupação histórica das regiões. O Oeste e o Vale do Itajaí, diz, foram colonizados no modelo de minifúndio, com propriedades menores, enquanto a Serra abriga propriedades mais extensas.
Uma das conseqüências desse processo reflete-se na área territorial dos municípios, que tendem a ser maiores na Serra, enquanto as cidades do Oeste e Vale do Itajaí tendem a dividir-se, pois as localidades afastadas desenvolvem necessidades próprias que não são contempladas pelas prefeituras e acabam buscando emancipação: desde 1996, Santa Catarina ganhou 32 novos municípios.
Êxodo maior agora é das cidades para o litoral
Apesar de em alguns casos, como os de Galvão e Campo Erê, a emancipação ser parcialmente responsável pela diminuição populacional, o professor Bastos diz que ela mais reflete as mesmas causas que ocasionam o êxodo rural, tanto que municípios maiores da região, que também perderam distritos, aumentaram suas populações. É o caso, por exemplo, de Concórdia e Videira.
O problema, diz Enori Barbieri, vice-prefeito de Xanxerê e vice-presidente da Federação da Agricultura de SC, é que o Oeste catarinense não despertou para o sistema industrial. No Vale do Itajaí, compara, a industrialização garantiu empregos nas cidades menores.
– O censo confirma uma tendência que já observamos há muito tempo e deve se acentuar. Primeiro foi o êxodo do campo para as cidades. Agora é das cidades para o litoral.
Bastos aponta o agronegócio como acelerador da descapitalização das pequenas propriedades, que leva notadamente os jovens a procurar novas possibilidades nos meios urbanos, principalmente à medida que a sua escolaridade aumenta, enquanto ficam nos sítios as pessoas mais velhas, que têm recursos garantidos pela aposentadoria e dedicam-se a pequenas plantações, apenas de subsistência.
Para Barbieri, porém, o agronegócio não explica sozinho o decréscimo das cidades.
– Hoje, o interior do RS é cheio de indústrias que nada têm a ver com agricultura e as pessoas podem permanecer no campo. Nos EUA, 0,5% trabalham com agricultura, mas 25% moram no campo. Não houve o mesmo em SC.
Fonte: Diário Catarinense