Santa Catarina espera receber 200 mil argentinos até o final da temporada

O sotaque e a moda nas praias catarinenses está mudando. Desde os primeiros dias de 2009 cresce o número de turistas argentinos nos balneários do Estado. A Santa Catarina Turismo (Santur) espera receber 200 mil visitantes do país vizinho durante a temporada.

Eles vêm de ônibus, de motor-home, de carro ou de vôo charter e muitas vezes trazem novidades, como cortes de cabelos inusitados e cores e estampas de biquínis brilhantes.

Em média, os argentinos representam 80% dos turistas estrangeiros que visitam Santa Catarina durante as temporadas de verão. Somente em janeiro do ano passado, 14.758 veranistas argentinos aportaram por aqui. As praias favoritas são Canasvieiras, na Capital, e Balneário Camboriú, no Litoral Norte.

Este ano, ao contrário das previsões pessimistas, os hermanos estão entrando em maior número em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, e mais de 24 mil argentinos já cruzaram as fronteiras dos dois estados.

A pequena diferença cambial entre o real e o peso continua impulsionando os vizinhos que optam em curtir parte das férias em Santa Catarina. Um peso argentino, segundo a cotação de segunda-feira, vale R$ 0,66 no comercial e R$ 0,73 no câmbio turismo.

Família visita a Capital pela terceira vez

A família dos aposentados Eduardo Maiochi, 69 anos, e Chola Maiochi, 66, resolveu passar 20 dias em Florianópolis. O casal, a filha Sandra, o genro Jorge e o neto Nacho saíram da cidade de La Plata logo depois das festas de fim de ano e cruzaram a fronteira com o Brasil no dia 5 de janeiro.

Esta é a terceira vez que eles visitam a capital catarinense. A bordo de um motor-home, que estão estreando este ano, eles estão alojados no Camping Costa do Sol, na Praia de Canasvieiras, no Norte da Ilha. Assim como eles, mais 300 argentinos também estão acampados no local.

Descontraídos e brincalhões, os integrantes da família Maiochi já estão bem populares no local. O patriarca, de tão comunicativo e prestativo, é chamado pelos colegas de camping de chefe. O neto, o mais jovem da grupo, Nacho Zocco, 17, compreende e fala português sem dificuldades. Para eles, a localização do camping, pertinho do mar, é o melhor atrativo do local.

Além de exaltar as beleza naturais do Estado, a família Maiochi ainda comemora os preços encontrados por aqui que, segundo eles, estão muito parecidos com os da Argentina.

— A diferença é bem pequena e vale a pena. Para nós é sempre um grande prazer visitar as praias catarinenses, que são lindas demais. Além disso, os brasileiros são pessoas muito amáveis. Estamos muito felizes aqui — destacou Maiochi.

A chegada dos hermanos nos primeiros dias do ano superou as expectativas da Santur. O presidente do órgão oficial de turismo do Estado, Valdir Walendowsky, demonstra surpresa.

— Estamos surpresos. Antes das chuvas, nossa expectativa era de um crescimento de 10% na movimentação, mas depois esperávamos repetir os números da temporada passada. No entanto, somente entre os dias 2 e 5 de janeiro este crescimento projetado foi alcançado — comparou.

O monitoramento da chegada dos argentinos foi realizado pela Santur através de dados fornecidos pelas companhias aéreas e de ônibus, que apontaram um aumento de 10% no números de visitantes do país vizinho argentino.

Conforme pesquisas da Santur, 90% do turismo argentino é rodoviário. A estudante Victoria Vico, 20, por exemplo, reuniu os amigos, alugou um micro-ônibus e no primeiro fim de semana de janeiro já deu seu primeiro mergulho nas águas da Praia de Canasvieiras, no Norte da Ilha de Santa Catarina. É a primeira vez que o grupo de 10 amigos visita a Capital.

Propaganda em Balneário Camboriú

A propaganda boca-a-boca tem sido a maior aliada de Balneário Camboriú, no Litoral Norte, para atrair os turistas da Argentina, país de origem da maior parte dos estrangeiros que visitam a região.

Depois das campanhas promovidas pelo poder público municipal após a enchente de novembro, tranquilizando os países vizinhos sobre as condições de estradas e praias, argentinos e chilenos começam a chegar em maior número na segunda quinzena de janeiro, para confirmar por si mesmos que a região já se recuperou.

De acordo com o levantamento da Secretaria de Turismo de Balneário Camboriú, cerca de 3,2 mil argentinos e 861 chilenos chegaram em ônibus de turismo à cidade nos últimos 10 dias. O departamento destaca, porém, que a maior parte dos turistas estrangeiros tem optado pelas viagens individuais, de carro, avião ou ônibus de linha. O levantamento, portanto, é tido como amostragem.

O secretário de turismo, Cláudio Dalvesco, diz que as notícias negativas sobre a região abalaram menos o movimento do que o esperado. Desde o início do período de maior movimento, perto do Natal, o número de visitantes está 10% superior em relação ao mesmo período de 2007.

— Já iniciamos um trabalho de divulgação forte na Argentina, que deve surtir muito efeito nas próximas semanas e especialmente em março, com o turismo da melhor idade — destaca Dalvesco.

O comerciante argentino Juan Daniel Gagliardi, que trabalha em Balneário Camboriú há 18 anos, nunca foi tão requisitado pelos compatriotas como nos últimos dias. Foram centenas de telefonemas solicitando informações sobre as condições do tempo, das praias e das rodovias catarinenses.

Gagliardi diz sentir-se feliz por poder contribuir com a vinda de turistas de seu país para Balneário Camboriú, após ter sentido redução de 20% no movimento do mercado durante o mês de dezembro.

— Primeiro vieram os que acreditavam que os efeitos da enchente acabaram. Agora eles estão voltando para o país e divulgando que a cidade continua bela.

A expectativa do comerciante é que a chegada em massa dos turistas estrangeiros ocorra na semana que vem.

Sul é destino procurado

Bastante frequentada por gaúchos, a Praia do Rosa, em Imbituba, virou destino preferencial de turistas argentinos. Desde o início do ano, o que se vê são jovens do país vizinho espalhados pelas dezenas de pousadas da praia, que possui uma das mais belas baías do mundo.

Para os frequentadores habituais das praias de Imbituba e da vizinha Garopaba fica claro que pode se tratar de uma ocupação ocasional.

Em outros anos, os argentinos tinham preferência pela Praia da Ferrugem, em Garopaba. Diante da diminuição da agitação noturna da praia de Garopaba, os hermanos enxergaram na Praia do Rosa o local ideal para as festas que invadem a madrugada.

Com isso, é comum achar que as areias da praia estão vazias pela manhã. Mas é só o ponteiro do relógio avançar além das 12h para vê-los na orla. Os argentinos costumam chegar em grupos de cinco ou seis pessoas — normalmente formados só por mulheres ou homens, porque é difícil vê-los entrosados. Na praia, os hábitos também têm suas particularidades.

As garotas preferem tomar sol, algumas com lenços na cabeça e óculos exageradamente grandes. Poucos se atrevem a enfrentar a água gelada para um banho.
Já os rapazes se mostram mais dispostos a um banho de mar e se revezam entre um descanso na praia e uma rodada de "altinha", tipo de jogo em que a bola não pode cair no chão. Há também os que se arriscam no mar com pranchas de surfe alugadas.

Com o entardecer, eles retornam às pousadas. À noite, costumam lotar o Beleza Pura, bar dirigido por argentinos.

Fronteiras movimentadas

As fronteiras de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul com a Argentina têm registrado movimento acima da média nos últimos dias. No mês passado, 3.413 estrangeiros (99% argentinos) chegaram ao Estado pela fronteira em Dionísio Cerqueira, Extremo-Oeste.

Segundo a Polícia Federal, na primeira semana de janeiro, uma média de 750 estrangeiros cruzaram a fronteira por dia. Muitos usam a BR-282 para chegar ao Litoral. A rodovia apresenta movimento além do normal.

No Rio Grande do Sul, nos primeiros três dias de 2009, 15 ônibus de turismo e 7.337 estrangeiros cruzaram a fronteira em Uruguaiana, sendo 95% argentinos. Em relação a dezembro do ano passado, a polícia federal registrou um aumento na chegada de estrangeiros de 28,3%

Em São Borja, a corporação observou aumento de 30% no movimento de estrangeiros este ano. Do dia 23 dezembro até 4 de janeiro deste ano, 7.268 estrangeiros (90% argentinos) passaram pela fronteira de Santana do Livramento.

Em Chuí, nos primeiros nove dias deste mês, passaram pelo município 5.396 estrangeiros, sendo 1.186 argentinos.

 

DIÁRIO CATARINENSE