Domingo de sufoco em alto-mar

Domingo, último dia do feriadão de Finados, manhã de sol, céu azul e mar tão calmo que parece piscina. Seis jovens de uma mesma família decidem aproveitar o dia na Ilha Três Irmãs, no Sul de Florianópolis. A idéia é fazer churrasco, mergulhar, tomar banho de sol, pescar e voltar no fim da tarde, como já fizeram tantas outras vezes. A lancha utilizada é do pescador Rodrigo da Silva, que se criou no mar e pilota todo tipo de embarcação desde menino. Da turma faz parte também o bombeiro militar Jader da Silveira. Essa foi a sorte do grupo. O tempo muda rápido, o mar encrespa e eles decidem voltar para casa. Mas não aconteceu dessa maneira. O barco naufraga e eles ficam presos na ilha, sem água, sem comida e sem comunicação com a costa. A experiência de Jader como bombeiro é fundamental. É ele quem consegue buscar ajuda. Abaixo, o relato feito pelos amigos, em conjunto, deste dia que, pelo menos tão cedo, não será esquecido por eles. Ontem, depois de recuperarem a lancha, o grupo relembrou os detalhes da aventura. Eles ainda não sabem quanto custará para recuperar o barco. – Dos males o menor. O importante é que estamos todos bem. Nestas horas, dinheiro é o que menos importa – enfatiza o piloto Rodrigo.

Jader nadou mais ou menos 3,5 quilômetros até a Praia do Saquinho para buscar ajuda. O mar estava brabo, e ficamos com medo. Mas, àquela altura, não havia muito o que fazer.

– Na hora que Jader se atirou no mar fiquei com muito medo. Sei que ele foi treinado para isso, mas eu fiquei nervosa quando não consegui mais enxergá-lo na água – recorda sua mulher, Zenair.

O resgate

Por volta das 18h, um salva-vidas chegou à ilha, onde estávamos. Nessa hora, sentimos um duplo alívio. Primeiro, porque só então ficamos sabendo que Jáder tinha chegado em terra são e salvo, depois, porque seríamos resgatados antes do cair da noite.

O primeiro bombeiro resgatou Zenilda (grávida) e a levou para a terra. Pouco depois, chegaram outros bombeiros com um bote inflável, onde coubemos todos. Quando chegamos à Praia do Pântano do Sul, já era início da noite. As pessoas da comunidade, que estavam sabendo do ocorrido e acompanharam toda a movimentação dos bombeiros, nos receberam em clima de festa. Nos levaram para suas casas, nos deram comida, café quente e roupas secas. Foi um momento muito emocionante para todos nós.

– Por um bom tempo não quero nem chegar perto de uma lancha, pelo menos até minha filha nascer – encerra Zenilda, grávida de uma menina.

O Herói

– Decidi buscar ajuda da maneira que podia, porque não queria que nossas esposas passassem a noite na ilha, sem roupa quente e sem comida. Como sou bombeiro, recebi treinamento para realizar todo tipo de salvamento. Já tirei muita gente da água no exercício da minha função, mas desta vez é completamente diferente, pois tive que salvar a minha própria esposa – com quem estou casado há apenas um mês – e meus cunhados. Pensava muito nela quando me atirei na água e comecei a nadar. Como iríamos mergulhar, eu havia levado minha roupa de neoprene, o que facilitou um pouco. Cheguei na Praia do Saquinho uma hora e pouco depois, percorri uma trilha costão acima, pedi carona numa estrada e não consegui, e tive que caminhar até o Pântano do Sul, onde enfim consegui um celular para ligar para os bombeiros – relata Jader, que, apesar de seu ato corajoso, não aceita ser chamado de herói.

– Fui treinado para salvar vidas. Só não esperava que um dia salvaria a minha própria mulher – comenta o bombeiro, que estava de folga.

Avisos aos navegantes
Dicas da Capitania dos Portos
– É indispensável checar a previsão do tempo antes de colocar o barco no mar. Uma dica da Capitania dos Portos é o site da instituição (www.dhn.mar.mil.br). Lá você encontra informações sobre ondas, velocidade do vento e previsão do tempo. Tempo propício pela manhã não é garantia de uma navegação segura o dia inteiro.
– Colocar uma embarcação pequena no mar exige atenção redobrada. Se a previsão indicar ondas de três metros, por exemplo, a navegação é contra-indicada.
– É importante amarrar a embarcação com segurança. É comum deparar com lanchas grandes amarradas com cordas finas. É necessário utilizar um corda específica e prendê-la com uma amarração segura.
– A Capitania dos Portos apenas fiscaliza se a embarcação está navegando em local permitido.

Fonte: Diário Catarinense
Matéria: VIVIANE BEVILACQUA