Homem máquina
Os sentidos dos seres humanos não se comparam aos dos animais. Algumas habilidades dos bichos nós sequer possuímos. Os falcões peregrinos podem cheirar sua presa a oito quilômetros, mais ou menos a mesma distância que um urso polar fareja uma foca. Os morcegos podem captar ultra-sons, que os ouvidos humanos não ouvem.
Mas nós somos bons para inventar coisas que possam melhorar nossos sentidos. Um exemplo bem simples disso são os óculos. Com os radiotelescópios, podemos enxergar galáxias que ficam muito longe daqui. Com os satélites e mais a Internet, podemos ver a Terra lá do espaço, e olhar qualquer rua do mundo.
Mas toda essa tecnologia não nos confere supersentidos, da mesma forma que um tanque de guerra não torna nossa pele blindada. A tecnologia apenas transforma os sinais imperceptíveis em algo que as limitadas capacidades dos nossos olhos e ouvidos possam ver e ouvir.
Os neurocientistas vêm tentando entender como nosso sistema nervoso e nosso cérebro funcionam, e como eles se comunicam com o resto do corpo.
Os sinais luminosos captados pelos olhos ou o sentido do toque de um dedo passam pelos nervos até chegarem ao cérebro.
Da mesma forma, ele envia mensagens para os nervos, controlando nossos movimentos.
Contudo, o cérebro humano é muito adaptável. A área do órgão onde que as mensagens chegam primeiro ou por último não faz muita diferença. Elas são constituídas apenas de sinais elétricos que os computadores podem tanto detectar quanto recriar.
Isso levanta questões intrigantes. O que seria possível fazer se pudéssemos ligar os computadores diretamente ao sistema nervoso ou ao cérebro? Poderíamos curar doenças? Adquirir supersentidos? Ouvir o ultra-som como os morcegos?
Conectando os computadores à Internet podemos expandir nossos sentidos para fora dos nossos corpos? Seria tudo isso remotamente possível algum dia?
É esse tipo de questão que passa pelo cérebro de Kevin Warwick, professor de cibernética do Instituto de Robótica da Universidade Reading (Grã-Bretanha). E também pelos nervos. Uma equipe de neurocientistas implantou um chip diretamente nos nervos dos braços de Warwick.
O chip envia sinais eletroquímicos que viajam entre os braços e o cérebro. Também troca informações com um computador fora do corpo de Warwick. Através do implante, as informações do computador viajam ao longo dos nervos do braço até o cérebro.
Numa experiência, quando o computador foi conectado a um detector de ultra-som, os sinais do aparelho foram transmitidos ao cérebro de Warwick via implante, e ele pôde, literalmente, sentir objetos se movendo em volta dele, mesmo com os olhos vendados.
Seu cérebro aprendeu a interpretar os sinais do ultra-som. Ele, realmente, adquiriu um novo, completamente novo sentido.
Em outra experiência, o implante de Warwick foi conectado à Internet. Neste caso, um braço robótico copia os movimentos do braço da pessoa a partir dos sinais elétricos que são trocados entre o cérebro e a mão no momento em que os dedos são flexionados. Assim, mesmo que a pessoa esteja no Brasil, pode mover o braço robótico na Inglaterra.
O próximo passo de Warwick é colocar um chip diretamente no cérebro. O uso de implantes cerebrais já é bastante difundido para tratamento de pacientes de Parkinson, que voltam a ter uma vida normal. O que ainda não foi tentado é conectar os implantes cerebrais diretamente à Internet.
E isso leva a mais questões. Seria possível as pessoas conectarem seus cérebros diretamente, como se fosse uma forma avançada de telepatia? Poderia alguém realmente sentir o que uma outra pessoa sente?
Kevin Warwick, professor de cibernética, que colocou chips nos nervos dos braços: |
"As vantagens do implante de chips são tão grandes que não vejo como evitá-lo. Quem não tiver chips implantados, será considerado uma subespécie. " |
Fonte: Diário Catarinense