Defesa reforçada
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que é preciso repensar e fortalecer o Ministério da Defesa. A declaração foi dada na cerimônia de posse de Nelson Jobim no Ministério da Defesa.
Com passagens pela Câmara dos Deputados, Ministério da Justiça no governo FHC e Supremo Tribunal Federal (STF), Jobim, 61 anos, substitui Waldir Pires após a crise do setor aéreo agravada pela queda do avião da TAM na semana passada.
– É preciso repensar nesse país o Ministério da Defesa porque o Ministério da Defesa como está, está aquém daquilo que é a exigência da sociedade brasileira, aquém do funcionamento necessário – disse Lula.
Lula deu posse a Nelson Jobim no Ministério da Defesa em meio à maior crise do setor aéreo. Na cerimônia, disse que o governo fará a sua parte para evitar a ocorrência de novos acidentes aéreos com a liberação de recursos para o setor.
– Vamos fazer o que precisamos fazer, gastando o que precisar gastar para dar tranqüilidade à sociedade brasileira. A única coisa que não podemos prometer é que não vai haver acidente, pois não depende de nós. Mas se depender de nós, de estrutura, não vai ter (acidente)
Segundo Lula, o novo Ministério da Defesa precisará fazer mudanças nas Forças Armadas.
– Precisará de força para fazer as mudanças que precisam ser feitas desde discutir a modernização até reestruturação das Forças Armadas e até de pessoas para tomarem conta de tudo aquilo que é pertinente às Forças Armadas.
Ao se referir ao acidente com o avião da TAM, o maior da história do país, Lula afirmou que é preciso tirar lições "desses momentos de dor" para "fazer as coisas que precisam ser feitas" para resolver a crise aérea.
O presidente sinalizou que o controle do tráfego aéreo precisa de uma "única cabeça pensante" e admitiu que existem vários órgãos hoje que não estão se comunicando direito na discussão de soluções para a crise do setor.
– O Waldir Pires e ministros sabem que muitas vezes a gente vai criando instituições. Tem um monte de instituições e muitas vezes é difícil de comandar esse conjunto de instituições. Todo mundo aqui brigou para criar a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Então hoje temos além da parte que a Aeronáutica que cuida disso, temos o Conac (Conselho de Aviação Civil), a Infraero, e temos que fazer com que essas instituições tenham uma única cabeça pensante.
Para Jobim, Lula afirmou que ele assumirá um ministério que precisará brigar para receber investimentos nas Forças Armadas.
– Vai precisar estar preparado para uma briga cotidiana (por investimentos) porque nem sempre as pessoas que cuidam da economia do país tratam disso (reequipar as Forças Armadas) com prioridade – disse.
Mas Lula garantiu que não faltarão investimentos.
– Decidimos que, a partir de agora, vão ser destinados R$ 130 milhões para as Forças Armadas.
Lula disse que uma das primeiras missões de Jobim como ministro da Defesa é se reunir com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito. Afirmou ainda que os dois ele e o Jobim devem ir a São Paulo para visitar o aeroporto de Congonhas (SP) – palco do acidente com a TAM – e o hospital onde está se fazendo estudo de DNA – para ajudar a identificar as vítimas do acidente aéreo.
No pronunciamento, admitiu que hoje que tem medo de voar de avião.
– Não sei se tem alguém aqui (na platéia) que não tenha medo de avião. Eu entrego minha sorte a Deus. Entrego porque estou na mão de um comandante, de uma máquina, das intempéries que nem sempre o ser humano consegue controlar. Mesmo assim, sou medroso de andar de avião. Confesso isso publicamente porque não é vergonha de dizer que tem medo – disse Lula no discurso de posse.
O presidente disse que pede a Deus que não ocorram novos acidentes aéreos no país. Mas admitiu que isso não é uma coisa com que se pode contar.
– Se pudesse pedir a Deus, pedia para ser o último acidente (com o avião da TAM, na semana passada). Não será. Deus queira que não aconteça, mas pode acontecer em função de dezenas de coisas.
Lula também não poupou elogios a Pires durante a posse de Jobim.
– Serei eternamente grato por ter tido a chance de trabalhar com você no governo. Certamente haverão aqueles que irão dizer que o companheiro está saindo por causa da crise aérea com o avião da TAM.
O presidente disse a Pires que ele não precisa se preocupar com aqueles que irão criticá-lo, pois ele pode andar de cabeça erguida em qualquer parte do país.
– Você pode andar em qualquer rua cidade desse país de cabeça erguida como homem que nasceu e viveu grande parte de sua vida prestando serviço a essa nação – afirmou.
Os desafios de Jobim |
1. Crise aérea |
O acidente com o Boeing da Gol, em setembro de 2006, expõe as deficiências no transporte aéreo do país. Os controladores de vôo se rebelam. Aeronáutica, Anac e Infraero não conseguem solucionar a crise, que culmina em novo acidente em Congonhas |
2. Arquivos da ditadura |
Problema segue sem solução. Famílias de desaparecidos reclamam que militares se negam a abrir os arquivos. Estes alegam que documentos foram destruídos e reclamam das reparações pagas a guerrilheiros, como Carlos Lamarca e Apolônio de Carvalho |
3. Soldos e Previdência |
Os militares insistem na recuperação das perdas salariais ocorridas em anos anteriores (já conseguiram aumentos superiores à inflação em 2004, 2005 e 2006) e têm resistido à unificação de seu sistema de aposentadorias ao regime geral da Previdência Social |
4. Reaparelhamento |
Desde 2003 o governo não consegue nem mesmo substituir os caças obsoletos da FAB e os mais de mil blindados do Exército, enquanto Venezuela e Chile investem pesadamente no setor. O projeto do submarino nuclear também segue a passos lentos |
Saiba mais |
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da república |
'Eu entrego minha sorte a Deus. Sou medroso para andar de avião, confesso isso publicamente' |
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A troca no Ministério da Defesa vai acelerar a resolução dos problemas na aviação nacional? |
Fonte: Diário Catarinense