A primeira medalha de ouro

A primeira medalha de ouro do Brasil é negra, de origem humilde. E, se depender da Confederação Brasileira de Taekwondo, vale R$ 600. Com o punho cerrado, Diogo Silva comemorou com a ruidosa torcida no Pavilhão 4 do Riocentro a vitória sobre o peruano Peter Lopez, na final da categoria até 68 kg. Assim, o jovem de 25 anos e cabelos rastafari pôde comemorar seu primeiro título Pan-Americano. Ao subir ao pódio, chorou.

Nascido em São Sebastião (SP), Diogo teve uma infância difícil. Para tirar o filho da rua, dona Telma o colocou em uma escolinha pública de taekwondo.

– No bairro onde eu morava, quem tinha mais poder era quem usava arma. Hoje, eu sou ponto positivo de referência – recordou Diogo, um atleta que tem batalhado para desenvolver a modalidade no país.

Nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, ele lutou com uma luva preta dos Black Panthers (Panteras Negras, um movimento de militantes negros norte-americanos da década de 1960) até a semifinal, quando foi impedido pelos árbitros. O objetivo era chamar a atenção para a falta de apoio ao taekwondo no Brasil.

Sem apoio da confederação, o atleta foi obrigado a dispor de R$ 5 mil para investir em sua preparação para os Jogos Pan-Americanos, no início do ano.

– Havia guardado o dinheiro para comprar um carro para a minha mãe, que é manicure. Mas tive que adiar o presente, a medalha é o futuro.

Se dependesse apenas da entidade, Diogo sequer poderia sobreviver. Ele recebia apenas uma bolsa mensal de R$ 600, que atrasava por até três meses. Na semifinal, Diogo teve um combate duro com o dominicano Yacomo Garcia, que havia eliminado o cubano Gessler Vieira, campeão mundial. O brasileiro sofreu uma pancada forte no abdômen, mas reuniu forças para ir ao tatame.

– Mesmo que estivesse com alguma costela quebrada eu não deixaria de competir, afinal, estava em busca do ouro – afirmou.

Depois de "bater na trave" em duas oportunidades (bronze em Santo Domingo e quarto colocado nos Jogos de Atenas), ontem ele conseguiu subir ao lugar mais alto do pódio.

– Quando tocou o Hino Nacional, eu estava pensando que finalmente havia chegado a minha vez. Estava muito emocionado e não consegui conter as lágrimas.

Fonte: Diário Catarinense