Bancos estão mais seguros

Bancos estão mais seguros
Caem os assaltos
JEFERSON BERTOLINI

 
 
 

No dia 29 de maio, um homem de terno e gravata rendeu quatro funcionários e o vigilante de uma da agência do Itaú em Balneário Camboriú, no Litoral Norte, e roubou R$ 253 mil. Foi o episódio mais recente de um problema grave em Santa Catarina: assalto a banco.

De janeiro de 2001 a dezembro do ano passado, 217 agências foram assaltadas no Estado, média de 36 por ano ou três por mês, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Além do prejuízo material a bancos públicos e privados, os assaltos podem custar caro a clientes e a quem trabalha nas agências.

Em novembro do ano passado, durante um tiroteio entre vigilantes e assaltantes no HSBC de Itapema, no Litoral Norte, uma cliente morreu: Maria Júlia Xavier Ribeiro, de 31 anos, foi baleada quando fazia um saque no caixa eletrônico. Na troca de tiros, também morreram dois dos quatro assaltantes: Zaqueu Gonçalves, 49, e o filho dele, Jessé, 22. Outro filho dele, Isael, 20, ficou paraplégico, e o sobrinho Mauro Gonçalves, 23, foi preso.

Os Gonçalves viviam na periferia de Blumenau, no Vale do Itajaí, e tinham hábitos que pareciam acima de qualquer suspeita. Freqüentavam a igreja, dedicavam-se à música religiosa. Para a polícia, tudo isso era só fachada.

Em dezembro passado, para citar outro exemplo, três bandidos assaltaram o Banco do Brasil e o Besc de Vidal Ramos, no Vale do Rio Tijucas, no mesmo dia. O bando chegou às agências em um carro roubado pouco antes do ex-prefeito Heinz Stoltenberg.

O delegado Maurício Eskudlark, chefe da Polícia Civil em Santa Catarina, diz que o número de assaltos "já foi muito pior" no Estado.

– Nos anos 1990, o número de assaltos era bem mais alto. Mas a polícia prendeu os principais assaltantes e os bancos investiram em segurança. De lá para cá, os números têm caído.

Em 1997, o ano mais crítico da década passada, ocorreram 132 assaltos só na Grande Florianópolis, de acordo com a SSP, quatro vezes mais que o registrado em 2006 em todo o Estado.

O problema é que, com o aperto aos assaltos a banco, outro crime ganhou força: as investidas contra carros-fortes. Entre 2004 e 2005, para se ter idéia, quatro carros-fortes foram assaltados em rodovias federais no Estado, sempre em investidas violentas.

No dia 18 de dezembro de 2005, o mais notório deles, um carro-forte da empresa TGV foi interceptado na BR-101, em Palhoça, por bandidos armados com fuzis AR-15. Eles roubaram o caminhão de um mecânico que mora perto do local para fazer o blindado parar e jogaram dinamite para abri-lo, quase matando os vigilantes. A família do mecânico passou uma noite sob a mira de armas para não avisar a polícia até o fim do roubo.

Neste ano, para tentar roubar o Banco do Brasil de Indaial, no Médio Vale, assaltantes seqüestraram a mulher do gerente Adeluir Adriano e a filha do gerente Vilson Klitzke para tentar forçá-los a abrir o cofre. A polícia frustrou o crime.

– Depois de uma coisa dessas, a gente repensa a vida e muda a rotina para ter mais segurança. Minha rotina está diferente – conta Adeluir.

– A gente fica com um sentimento de desconfiança depois de passar por uma situação dessa – diz Vilson.

As vítimas de assalto a banco podem ter problemas, como o transtorno de estresse pós-traumático, que pode provocar isolamento e repetidos flashbacks do ato violento.

– Antigamente, o transtorno de estresse pós-traumático era muito identificado em ex-combatentes de guerra, mas depois se percebeu que pessoas comuns e que sofrem algum tipo de violência, como um assalto, podem desenvolvê-lo – afirma o psicanalista Ricardo Guarnieri.

– Durante o assalto, a pessoa pode ficar tranqüila, como se nada estivesse acontecendo. O trauma pode aparecer imediatamente ou tempos depois – diz a psicóloga Liliane Machado, que atende vítimas da violência.

Para Cléber da Silva Lopes, especialista em segurança privada, a lei que obriga os bancos a criar mecanismos de segurança deveria ser mais rígida.

( jeferson.bertolini@diario.com.br )

Os números
Em Santa Catarina 2006
> 33 roubos
11 no Vale do Itajaí
10 na Grande Florianópolis
5 no Norte
4 no Oeste
2 na Serra
1 no Sul
2005
> 30 roubos
9 no Norte
6 no Oeste
6 no Vale do Itajaí
4 na Grande Florianópolis
3 na Serra
2 no Sul
2004
> 30 roubos
10 no Norte
10 no Vale do Itajaí
 
4 na Grande Florianópolis
3 no Oeste
2 na Serra
1 no Sul
2003
> 33 roubos
14 no Vale do Itajaí
9 no Norte
5 no Sul
5 na Grande Florianópolis
2002
> 38 roubos
14 no Norte
11 na Grande Florianópolis
8 no Vale do Itajaí
2 no Oeste
2 no Sul
1 na Serra
2001
> 53 roubos
26 no Norte
8 na Grande Florianópolis
8 no Sul
6 no Vale do Itajaí
4 na Serra
1 no Oeste
Fonte: Secretaria de Segurança Pública