Compulsão pela Internet
Começou a ser derrubado no Brasil um mito que tem servido de base para estudos sobre o vício pela Internet. As conclusões de uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo derrubam a crença de que surfar durante horas na rede é mania exclusiva de jovens estudantes.
Essa compulsão pela web não faz discriminação. Pode atingir homens e mulheres, de qualquer idade, classe social e nível cultural. O resultado veio a partir da análise do primeiro grupo de voluntários do projeto de Dependentes de Internet do Ambulatório Integrado dos Transtornos dos Impulsos, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os 15 participantes, entre 18 anos e 73 anos, desse grupo foram clinicamente diagnosticados como compulsivos pela Internet e se submeteram a sessões de análise cognitiva durante seis meses.
– Fiquei surpreso com os resultados. Apesar de o grupo ser pequeno, eles vão contra as estatísticas norte-americanas que servem de base no mundo inteiro – afirma Cristiano Nabuco, coordenador do projeto.
Nabuco se impressionou porque os resultados da pesquisa mostraram que no país a dependência não é um problema exclusivo dos jovens.
O acesso compulsivo à rede é diagnosticado como um distúrbio psiquiátrico do mesmo patamar que as dependências do álcool, do jogo e das compras.
Nos Estados Unidos, de 6% a 10% dos 189 milhões de internautas sofrem desse mal. No Brasil, os estudos ainda são tímidos e não se tem esse número.
– Montei o primeiro grupo de tratamento no Hospital das Clínicas (de São Paulo) no meio do ano passado, quando as queixas em relação ao uso abusivo da Internet no meu consultório passaram as ser mais constantes – diz Nabuco.
O Núcleo de Estudos em Psicologia e Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) orienta pacientes que não conseguem desgrudar do computador. Atualmente, 15 internautas são monitorados pelos especialistas.
– Fazíamos uma orientação pontual até começar a receber vários pedidos de ajuda- conta Andrea Nolf, uma das psicólogas do núcleo.
Um dos sinais de alerta é trocar o trabalho pela web
A PUCSP presta orientação via e-mail. Psicólogos e pacientes trocam duas mensagens por semana. Nelas, o paciente é convidado a pensar em pontos importantes da vida freqüentemente prejudicados com a obsessão pela web, como trabalho e relacionamentos. Mas vários fatores são levados em conta até que um internauta receba o diagnóstico de viciado na web.
– Um dos sinais de alerta é, por exemplo, o paciente deixar de trabalhar para ficar na Internet. Temos no grupo um executivo com doutorado que fica trancado na sala da empresa em que trabalha acessando sites de pornografia. Quando chega em casa, não quer saber da mulher – alerta Nabuco.
Segundo Kimberly Young, autora do livro Caught in the Net (Fisgado pela Rede), a maior parte desses internautas está insatisfeita com a própria vida. Antes de mergulhar no mundo virtual, o paciente costuma sofrer de distúrbios contemporâneos como ansiedade, depressão e estresse.