Postos viram um negócio arriscado

Romeu, um rottweiler de dentes afiados e de patas pesadas, passa a noite no pátio de um posto de combustíveis do Bairro Itacorubi, no Leste da Ilha, em Florianópolis. Ao lado dele, está um vigilante particular armado. O dever dos dois: intimidar assaltantes, que têm agido na cidade e arredores de forma intensa.

N a tentativa de combater assaltos, que, além do prejuízo material, colocam em risco a vida de frentistas, de caixas e de quem quer que simplesmente esteja abastecendo o carro ou comprando uma cerveja na loja de conveniência, os postos de combustíveis da Grande Florianópolis têm recorrido a qualquer coisa que aumente a sensação de segurança. Até cachorros.

As medidas parecem não estar dando o resultado esperado: os postos têm amargado assaltos a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana. Na média, segundo o sindicado dos donos de postos, acontece um assalto por dia.

O Autoposto JHP, em São José, assaltado às 9h da segunda-feira do dia 18, foi vítima 26 vezes nos últimos quatro anos.

Trata-se de um caso que ilustra o quanto os postos da região estão vulneráveis. De todos os assaltos, em apenas duas oportunidades os bandidos acabaram detidos.

– Temos investido em segurança. Já instalamos sistema de câmera e a porta do nosso escritório tranca com um dispositivo automático. Mas a violência na região só aumenta. É difícil encontrar alguém que não tenha sido assaltado – disse o proprietário, Fernando Phellipi.

Naquele dia, o assaltante Maicon Jonatan de Jesus, 22 anos, morreu ao ser baleado por policiais militares. O parceiro dele, Renato de Melo, 22, acabou preso. Os dois roubaram R$ 1,5 mil e cartões telefônicos, mas foram seguidos pela polícia.

No sábado, dia 16, um rapaz de 17 anos morreu ao tentar assaltar um posto do Bairro Itacorubi. Ele foi alvejado por um policial militar de folga que estava no local.

Um parceiro dele de 21 anos acabou baleado. Outros dois foram presos. O posto informou que se o assalto tivesse sido bem-sucedido, seria o quarto em 45 dias.

De tempos em tempos, os postos da região enfrentam períodos sangrentos. Em 2005, para citar um outro momento crítico, um assalto praticado por três garotos contra um posto do Bairro Rio Tavares, no Sul da Ilha, na Capital, terminou em morte.

Perfil dos assaltantes não é o dos profissionais

O operador de caixa Cristiano da Rosa, 28 anos, que havia chegado à cidade meses antes para estudar, morreu baleado pelos assaltantes.

As imagens registrados pelas câmeras do circuito interno de tv (veja página ao lado) mostraram que ele não reagiu: os criminosos atiraram a sangue frio, em uma demonstração de violência gratuita. Foram presos semanas depois.

Em 2004, em outro momento duro, o empresário Anicácio Antônio Macedo, 69 anos, foi morto a tiros por criminosos durante assalto em seu posto, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Ele saía do escritório para ir a uma agência bancária depositar R$ 10 mil.

As prisões feitas pela polícia mostram que o assaltante de posto tem um perfil curioso: não é um bandido do tipo profissional, que age baseado em um plano e busca grandes quantias.

É um criminoso que se contenta em levar quantias pequenas, o suficiente para alimentar o vício da droga, e que não pensa duas vezes antes de atirar.


Fonte: Diário Catarinense
Matéria: JEFERSON BERTOLINI ( jeferson.bertolini@diario.com.br )