Horror em Congonhas

O caótico sistema aéreo brasileiro produziu ontem o que pode ser a maior tragédia da história da aviação no país.

Um Airbus que partiu à tarde de Porto Alegre derrapou na pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, atravessou uma das avenidas mais movimentadas da cidade e explodiu ao colidir contra um prédio e um posto de gasolina.

O incêndio provocado pela colisão atrapalhava as operações de resgate e impedia a contabilidade dos mortos até o final da noite. A aeronave, um Airbus A320 da TAM, levava 170 passageiros (incluindo alguns funcionários da empresa) e seis tripulantes. Também havia um número desconhecido de pessoas no edifício atingido, um depósito da TAM Express onde trabalham cerca de cem pessoas.

A perspectivas de quem esteve no local eram desanimadoras. Apesar de não haver informações oficiais, o delegado Antonio de Olim, titular da delegacia de Polícia Civil no interior do aeroporto, afirmou que todos os ocupantes do vôo teriam morrido. Funcionários do prédio atingido conseguiram escapar das chamas pulando de janelas, mas uma parte deles engrossaria a lista das vítimas.

– Tem aí uns 200 mortos – revelou o coronel Manuel Antonio da Silva Araujo, comandante do Corpo de Bombeiros.

Às 22h, o delegado do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) Aldo Galeano Junior afirmou que 12 corpos já haviam sido retirados, e que nenhum deles era de passageiros. O delegado informou também que um Corsa e uma moto foram encontrados nos destroços do posto de gasolina atingido.

O vôo JJ 3054 deixou o aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, às 17h16min. O acidente aconteceu durante a aterrissagem, uma hora e meia mais tarde. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, o avião passou direto pela cabeceira da pista, atravessou a Avenida Washington Luís, fazendo um rasante sobre os veículos, e atingiu o prédio da TAM no outro lado da via.

Segundo uma mulher não-identificada, que falou à TV Globo, a roda da aeronave atingiu o táxi em que ela vinha na avenida.

– A gente saiu correndo, todo mundo saiu correndo.

Haveria muitos gaúchos a bordo. Em Porto Alegre, sem notícias sobre os passageiros, familiares tomaram o aeroporto Salgado Filho e protagonizaram cenas de desespero. Alguns exigiam, aos gritos, a lista com o nome dos passageiros, não divulgada até o final da noite.

Reforma da pista foi entregue incompleta

O acidente obrigou a Infraero a suspender todos os vôos e decolagens em Congonhas. A avenida ao lado do aeroporto também foi interditada.

O desastre aconteceu em um aeroporto que vem tendo suas condições de segurança postas em dúvida. No ano passado, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a suspensão de operações quando houvesse acúmulo de pelo menos três milímetros de água nas pistas. Ontem, foi registrada precipitação de 7,9 milímetros no Bairro Vila Mariana. No último dia 30, uma reforma na pista foi entregue incompleta, sem as ranhuras que garantiriam o escoamento da água e a maior aderência dos pneus ao solo.

O coordenador de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Carlos Camacho, afirmou que o acidente foi uma tragédia anunciada. Para ele, é inadmissível a falta de ranhuras na pista.

– A questão que fica é: quem vai assumir a responsabilidade? – questionou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou luto oficial no país nos próximos três dias.

– Foi com grande consternação que recebi a notícia do acidente envolvendo um Airbus da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Quero manifestar minha solidariedade aos parentes das vítimas e assegurar à sociedade brasileira que todas as investigações necessárias serão feitas a fim de esclarecer as causas dessa terrível tragédia. Em sinal de pesar pelas vítimas, decretei luto oficial no país nos próximos três dias – diz Lula em nota divulgada pelo Palácio do Planalto.

Informações
A TAM disponibilizou um número para informações: 0800117900. O atendimento é preferencial para familiares de passageiros e tripulantes
clicRBS
TAM divulga lista de passageiros que embarcaram no vôo 3054

Fonte: Diário Catarinense